Racismo no futebol
O que a linguagem do discurso midiático pode nos dizer?
DOI :
https://doi.org/10.25200/SLJ.v10.n2.2021.446Mots-clés :
Linguistique systémique-fonctionnelle, Théorie de l’évaluation, Discours médiatique, Racisme, FootballRésumé
PT. O presente artigo tem como objetivo analisar os Julgamentos (Martin e White, 2005) presentes no discurso midiático a respeito de um caso de racismo sofrido pelo jogador Daniel Alves em 2014, à época, no Barcelona. A análise foi feita a partir do fragmento de um corpus coletado em minha pesquisa de mestrado (Pimenta, 2019), compilado com a plataforma Sketch Engine a partir de 65 artigos de hard news sobre o tema, publicados de forma online no Brasil, totalizando 21.387 formas, 1.014 sentenças e 25.127 palavras. Para os trechos analisados neste artigo, considera-se apenas os trechos das notícias nos quais a voz do repórter está sendo utilizada em primeiro plano. A análise é realizada a partir da Linguística Sistêmico-Funcional (Halliday e Matthiessen, 2014) e do Sistema de Avaliatividade (Martin e White, 2005), a partir dos quais a linguagem é visualizada como um sistema sociossemiótico, ou seja, entende-se que a comunicação se dá por um sistema, sendo ele repleto de significados de cunhos sociais e culturais. O trabalho também se baseia na hipótese de que as hard news nunca são neutras (White, 2003) e, portanto, passíveis da presença de significados avaliativos ao longo do texto. Para compreender o contexto no qual as notícias estão sendo relatadas, há ainda uma compreensão inicial sobre alguns preceitos das relações raciais no Brasil e no futebol. Os resultados mostram que a linguagem utilizada pelo discurso midiático opera como fator de reforço para padrões de representação sobre o racismo no futebol e seus aspectos presentes na sociedade brasileira. Uma vez em que o racismo é base para as formas de desigualdade e violência dessa sociedade (Almeida, 2019), é possível observar que a presença deste na estrutura se mostra visível na linguagem em uso. Os dados obtidos nesta pesquisa oferecem, ainda, um desenho para uma metodologia de análise de aspectos sociológicos do esporte e do racismo como ideologia vigente por meio da linguagem intrínseca.
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EN. This article analyzes the judgments (Martin and White, 2005) developed in the media coverage of a case of racial discrimination experienced by Brazilian Daniel Alves in 2014, at the time playing for the FC Barcelona. The analysis is based on a segment of a corpus compiled as part of a master's research (Pimenta, 2019) using the platform Sketch Engine. The corpus is composed of 65 hard news articles published online in Brazilian media, which break down into 21,387 forms, 1,014 sentences and 25,127 words. The analysis focuses exclusively on extracts in which the journalist’s position is made clear. Research methodology is based on systemic-functional linguistics (Halliday and Matthiessen, 2014) and appraisal theory (Martin and White, 2005), which consider language as a socio-semiotic system loaded with social and cultural meanings, through which communication occurs. The research is based on the hypothesis that hard news is never neutral (White, 2003). On the contrary, hard news articles include an evaluative dimension throughout the reports. Understanding some of the precepts of race relations in Brazil and in soccer is central to better understant the context in which the news is reported. Results of the analysis show that the language produced by media coverage reinforces standards of race representation in soccer, which is part of the larger racial discrimination dynamics that characterize contemporary Brazilian society. The language used by the media indeed illustrates how racial discrimination is a root cause of inequality and violence in Brazilian society today (Almeida, 2019). Based on the data collected, a methodological model of analysis was developed through language and its intrinsic features, allowing to reveal specific sociological aspects of sports and racial discrimination, which still today remains a dominant ideology.
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FR. Cet article analyse les jugements (Martin et White, 2005) présents dans le discours médiatique autour d’un cas de racisme subi par le Brésilien Daniel Alves en 2014, à l’époque joueur du FC Barcelone. L'analyse se penche sur une partie d’un corpus plus large compilé dans le cadre d’une recherche de master (Pimenta, 2019) à l’aide de la plateforme Sketch Engine. Ce corpus de 65 articles de hard news sur le sujet, publiés en ligne dans des médias brésiliens, est constitué de 21 387 formes, 1 014 phrases et 25 127 mots. L’analyse porte uniquement sur les extraits où la voix du journaliste apparait au premier plan. L’apport méthodologique repose sur la linguistique systémique-fonctionnelle (Halliday et Matthiessen, 2014) et sur la théorie de l’évaluation (Martin et White, 2005), où le langage est perçu comme un système socio-sémiotique chargé de significations de natures sociale et culturelle, au travers duquel se réalise la communication. Notre étude part de l'hypothèse que les hard news ne sont jamais neutres (White, 2003). Bien au contraire, elles sont sujettes à la présence de significations évaluatives tout au long du texte. Ainsi, pour appréhender le contexte dans lequel sont rapportées les informations d’actualité, il importe également de comprendre certains préceptes des relations raciales au Brésil et dans le football. Les résultats montrent que le langage produit par le discours médiatique renforce les standards de représentation du racisme dans le football et les aspects de ce racisme qui caractérisent la société brésilienne. En effet, le langage des médias illustre bien le fait que le racisme est à la base des formes d'inégalité et de violence de cette société (Almeida, 2019). A partir des données recueillies, nous avons pu construire un modèle méthodologique d'analyse, par le biais du langage et des traits qui lui sont intrinsèques, capable de révéler certains aspects sociologiques du sport et du racisme, qui s’avèrent constituer l'idéologie dominante.
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