Dibujar la realidad
El cómic como medio documental
DOI:
https://doi.org/10.25200/SLJ.v12.n2.2023.579Keywords:
documentary comics, image, indexicality, mediatization, semioticsAbstract
ES. El presente artículo analiza, desde una perspectiva semiótica, las posibilidades y limitaciones del cómic como lenguaje empleado para documentar hechos efectivamente acaecidos. Dado que su carácter referencial no puede edificarse sobre propiedades inherentes a un dispositivo técnico despojado de la indicialidad de los registros fotográficos y fonográficos, el cómic documental recurre a una serie de mecanismos auxiliares tendientes a conferir legitimidad a la instancia de enunciación como productora de un discurso veraz. Este trabajo muestra, a partir de un recorrido por obras destacadas del campo, que la elección de estos recursos viene determinada, en cada caso, por el (sub)género en el que el texto se inscribe, que puede ser más cercano al reportaje periodístico o más afín a los géneros de la narrativa clásica. Los mecanismos empleados, sin embargo, no autorizan a soslayar el problema que se deriva de que la representación de los hechos tiene lugar a través de ilustraciones que se encuentran por completo bajo el control del autor-dibujante, lo que acaba por ofrecer una representación de la realidad que se halla interpretada en el mismo nivel del componente visual, con los evidentes ‘riesgos’ que de ello se derivan. Se concluye que el carácter opaco o no naturalista del cómic, en tanto que texto compuesto por secuencias de imágenes fijas hechas a mano, tiene, por lo menos, el mérito de recordar al lector que se encuentra siempre ante un discurso y no ante las cosas mismas. Asimismo, la combinación de mecanismos de control –multiplicidad de testigos y de documentos, consultas con expertos, etc.– y de potentes recursos expresivos tomados del cine (documental y de ficción) así como del campo periodístico, hacen del cómic un medio dúctil, capaz de configurar textos polifónicos en los que adquieren protagonismo aquellas perspectivas que son ajenas a las narrativas dominantes de la historia.
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EN. In this article, the possibilities and limits of comics as a language for documenting events that have actually taken place are analyzed from a semiotic perspective. Since its referential character cannot be constructed on the basis of properties inherent to a technical device lacking the indexicality of photographic and phonographic media, documentary comics have recourse to a set of supplementary mechanisms aimed at conferring legitimacy to the enunciating entity as the producer of a genuine discourse. Based on the examination of a number of works in the field, this article demonstrates that the choice of these resources is determined on a case-by-case basis and based on the (sub)genre to which the text belongs to, which may be either closer to journalistic reportage or more akin to classic narrative genres. The mechanisms employed, however, do not allow us to bypass the issues which derives from the fact that events and facts are reported by means of illustrations over which the author-illustrator has total control. This, in turn, ends up offering a representation of reality that is interpreted on the same level of the visual component, with the obvious 'risks' that it can imply. It is concluded that the opaque or non-naturalistic character of comics, as a text composed of sequences of still images made by hand, has at least the benefit of allowing the reader to keep in mind that they are in the presence of a discourse, and not reality itself. Similarly, the combination of various verification mechanisms, such as testimonies, expertise and other documents, with powerful expressive resources derived from the cinema (documentary and fiction movies) as well as journalism, makes comics a ductile medium with the properties enabling the production of polyphonic narratives that put into the light perspectives alternative voices, far from the dominant narratives of history.
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PT. Esse artigo analisa, a partir de uma perspectiva semiótica, as possibilidades e limitações dos quadrinhos como uma linguagem usada para documentar eventos que realmente aconteceram. Como seu caráter referencial não pode ser construído com base em propriedades inerentes a um dispositivo técnico desprovido de indexicalidade dos registros fotográficos e fonográficos, os quadrinhos documentais recorrem a uma série de mecanismos auxiliares que visam conferir legitimidade à instância de enunciação como produtora de um discurso verdadeiro. Esse artigo mostra, com base no estudo de alguns trabalhos da área, que a escolha desses recursos é determinada, em cada caso, pelo (sub)gênero em que o texto está inscrito, que pode ser mais próximo da reportagem jornalística ou mais semelhante aos gêneros da narrativa clássica. Os mecanismos empregados, no entanto, não permitem evitar o problema que surge da perspectiva de que a representação dos fatos ocorre por meio de ilustrações que estão totalmente sob o controle do autor-desenhista, o que acaba oferecendo uma representação da realidade que é interpretada no mesmo nível do componente visual, com os óbvios "riscos" que isso implica. Conclui-se que o caráter opaco ou não naturalista dos quadrinhos, como um texto composto de sequências de imagens estáticas feitas à mão, tem, pelo menos, o mérito de lembrar ao leitor que ele está sempre diante de um discurso e não das coisas em si. Da mesma forma, a combinação de mecanismos de controle – múltiplos testemunhos e documentos, consultas a especialistas, etc.– e de poderosos recursos expressivos extraídos do cinema (documentário e ficção), bem como do campo do jornalismo, fazem dos quadrinhos um meio dúctil, capaz de configurar textos polifônicos nos quais as perspectivas alheias às narrativas dominantes da história ganham destaque.
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FR. Cet article analyse, selon une perspective sémiotique, les possibilités et les limites de la bande dessinée en tant que langage utilisé pour documenter des événements ayant réellement eu lieu. Comme son caractère référentiel ne peut être construit sur la base de propriétés inhérentes à un dispositif technique dépourvu de l'indexicalité des supports photographiques et phonographiques, la BD documentaire a recourt à un ensemble de mécanismes auxiliaires visant à conférer à l'instance d’énonciation une légitimité en tant que productrice d'un discours vrai. À partir de l'étude de certains travaux du domaine, cet article montre que le choix de ces ressources est déterminé, au cas par cas, par le (sous-)genre dans lequel le texte s'inscrit, qui peut être plus proche du reportage journalistique ou s’apparenter davantage aux genres narratifs classiques. Les mécanismes utilisés ne permettent cependant pas d’éviter le problème lié au fait que la représentation des faits est réalisée au moyen d'illustrations sur lesquelles l'auteur-dessinateur a un contrôle total. La représentation de la réalité qui est ainsi proposée est alors interprétée au même niveau que l’élément visuel, avec les « risques » évidents que cela implique. Nous concluons en affirmant que le caractère opaque ou non naturaliste de la bande dessinée, en tant que texte constitué de séquences d'images statiques dessinées à la main, a au moins le mérite de rappeler au lecteur qu'il est toujours devant un discours, et non face aux choses elles-mêmes. De même, la combinaison de divers mécanismes de contrôle – témoignages et documents multiples, consultations d'experts, etc. – et de ressources expressives puissantes issues du cinéma (documentaire et de fiction), mais aussi du journalisme, fait de la bande dessinée un média ductile, à même de produire des textes polyphoniques qui mettent en avant des perspectives éloignées des récits dominants de l'histoire.
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