Por uma estética jornalística da pobreza
DOI:
https://doi.org/10.25200/SLJ.v6.n1.2017.292Palavras-chave:
jornalismo literário, jornalismo em quadrinhos, estética, empatia, reportagem socialResumo
- A objetividade jornalística como a conhecemos hoje, tornada visualizável e pal- pável na estrutura do texto jornalístico padrão, é um produto do positivismo, da estética naturalista-realista, da invenção do telégrafo e do crescente processo de industrialização da segunda metade do século 19, cujas características o jornalismo assimilou. Essas características industriais do jornalismo estabeleceram-se devido às suas utilidade e aplicação: ainda hoje, o grau de objetividade aparente das notícias é um importante parâmetro para a construção da credibilidade de um veículo jornalístico, bem como para a medição do valor de diferentes veículos. Credibilidade é o capital simbólico acumulado por empresas e jornalistas e usado na competição com outros jornalistas e outras empresas. Entretanto, quando se tenta maquiar as subjetividades envolvidas no processo de produção de uma notícia, surge um efeito colateral: toda a diversidade dos temas de interesse público precisa ser eliminada para se encaixar em um molde único. Neste ensaio, analiso o que se perde ao se utilizar a estrutura fixa do texto jornalístico padrão e investigo os danos para o exercício cidadão do jornalismo. Um desses danos advém da perspectiva narrativa. Ao ser obrigado a narrar sua notícia em terceira pessoa, o jornalista tradicional dá a impressão de não ter participação alguma nos efeitos de sentido da sua notícia. Outra técnica do jornalismo tradicional posta em questão é o modo de apresentar as fontes. Nunca vistos como indivíduos, textualmente os entrevistados tornam-se fontes atuando como recursos discursivos, cujo objetivo último é construir o efeito de sentido de autoridade. O jornalismo convencional também enfrenta enormes dificuldades na hora de tratar das camadas sociais mais excluídas. São dificuldades proporcionadas pela sua própria estrutura organizacional e narrativa e que, portanto, não podem ser superadas quando se usa o método tradicional de se contar histórias no jornalismo. Ao querer ser neutro na abordagem de temas sociais, esse jornalismo distancia o leitor do tema da notícia, transforma pessoas e histórias de vida em dados e estatísticas, não permite que o leitor sinta empatia, estabelece um muro arti- ficial, na medida em que dá a impressão que leitor e entrevistado nunca poderão trocar de posi- ção. É um jornalismo a serviço da manutenção da desigualdade, pois não mobiliza o leitor a uma melhor compreensão da realidade social. A partir dessas reflexões, proponho uma libertação do modelo jornalístico estadunidense através da incorporação de técnicas narrativas da literatura e de elementos estéticos advindos de diversos campos artísticos. Focando em experiências do Jornalismo em Quadrinhos – incluindo um relato do processo de elaboração da reportagem So close, faraway! –, defendo que uma narrativa jornalística que proporcione experiências estéticas tem um poder transformador, ao gerar empatia e estimular o leitor à ação ou, ao menos, a uma compreensão mais ampla das alteridades.
- Journalistic objectivity as it is known today—made viewable and palpable through the standard journalism textual structure—is a product of a positivist, naturalist- realist aesthetic, of the invention of the telegraph and the growing process of the industrialization from the second half of the 19th century, whose characteristics journalism has assimilated. These industrial characteristics of journalism remain today and continue to require a degree of apparent objectivity as an important parameter for the construction of credibility of a news vehicle and for measuring the utility and applicability of different vehicles. Credibility is the symbolic capital accumulated by companies and journalists and used in the competition with other journalists and companies. However, there is a side effect in trying to report the subjectivities involved in the news production process: the diversity of issues of public interest must be eliminated to fit into a single mold. In this essay, I analyze what is lost when the fixed structure of the standard journalistic text is used, and I investigate the damages to the citizen practice of journalism. One of these damages stems from the narrative perspective. Constrained to tell their stories in the third person, traditional journalists give the impression of not participating in the effects of meaning produced by their news items. Another technique traditional journalism calls into question is how to introduce sources. Never seen as individuals, the interviewed become sources acting textually as discursive resources, whose ultimate goal is to build a sense of authority. Conventional journalism also faces enormous difficulties when dealing with the most excluded social groups. These difficulties arise from its inherent organizational and narrative structure and cannot therefore be overcome with the traditional method of sto- rytelling in journalism. In an attempt to approach social issues neutrally, this kind of journalism distances the reader from the news theme, transforming people and life stories into data and statistics, disallowing the reader to feel empathy, and establishes an artificial wall (since it gives the impression that reader and interviewee may never change their positions). It is a journalism in service of maintaining inequality because it does not engage the reader in acquiring a better understanding of social reality. With these reflections as a starting point, I propose to move away from the American journalism model through the incorporation of narrative techniques from literature and aesthetic elements from different artistic fields. Focusing on experiences of “comics journalism”—including an account of the creation process of So close, faraway!—, I sustain the argument that a journalistic narrative that provides aesthetic experiences has a transformative power because it generates empathy and encourages the reader to action, or at least to a broader understanding of otherness.
- L’objectivité journalistique telle qu’envisagée aujourd’hui — et rendue visible et palpable à travers la structure textuelle standardisée du journalisme — est un produit d’une esthétique positiviste et naturaliste-réaliste, de l’invention du télégraphe et du processus croissant d’industrialisation de la seconde moitié du XIXe siècle, dont le journalisme a assimilé les caractéristiques. Ces caractéristiques industrielles du journalisme demeurent aujourd’hui et continuent d’exiger un degré d’objectivité apparente comme paramètre important pour la construction de la crédibilité de l’information véhiculée et pour mesurer l’utilité et l’applicabilité de différents véhicules. La crédibilité est le capital symbolique accumulé par les entreprises et les journalistes et utilisé dans la compétition dont ils font partie. Cependant, il y a un effet secondaire lorsque l’on tente de mettre en évidence les subjectivités dans le processus de production des nouvelles : la diversité des questions d’intérêt public doit être éliminée pour se conformer à un seul modèle. Dans cet submission, j’analyse ce qui disparait lorsque la structure fixe du texte journalistique standard est utilisée, et j’étudie les dommages causés à la pratique citoyenne du journalisme. Un de ces dommages est lié à la perspective narrative. Étant obligés de raconter leurs histoires à la troisième personne, les journalistes traditionnels donnent l’impression de ne pas participer aux effets de sens produits par leurs nouvelles. Une autre technique que le journalisme traditionnel met en question est la façon d’introduire des sources. Jamais considérés comme des individus, les interviewés deviennent des sources agissant textuellement comme des ressources discursives, dont le but ultime est de construire un sentiment d’autorité. Le journalisme conventionnel est également confronté à d’énormes difficultés lorsqu’il s’agit d’aborder les groupes sociaux les plus exclus. Ces diffi- cultés sont fournies par sa propre structure organisationnelle et narrative ; par conséquent, elles ne peuvent être surmontées par la méthode traditionnelle de narration journalistique. Désireux d’être neutre dans l’approche des problèmes sociaux, ce genre de journalisme distancie le lecteur du thème évoqué, il transforme les personnes et les récits de vie en données et statistiques, ne permet pas au lecteur de ressentir de l’empathie et établit un mur artificiel (en donnant l’impression que le lecteur et l’interviewé ne changeront jamais de position). C’est un journalisme au service du maintien de l’inégalité, car il ne mobilise pas le lecteur pour acquérir une meilleure compréhension de la réalité sociale. En prenant ces réflexions comme point de départ, je propose une sortie du modèle journalistique nord-américain en incorporant des techniques narratives provenant de la littérature et des éléments esthétiques de différents domaines artistiques. En mettant l’accent sur les expériences du BD reportage — y compris un compte rendu du processus de création de So close, faraway! —, je défends l’argument selon lequel un récit de journalistique qui fournit des expériences esthétiques a un pouvoir transformateur car il génère de l’empathie et encourage le lecteur à l’action, ou du moins à une compréhension plus large de l’altérité.
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Publicado
2017-06-15
Como Citar
Machado Paim, A. (2017). Por uma estética jornalística da pobreza. Sur Le Journalisme, About Journalism, Sobre Jornalismo, 6(1), 86–101. https://doi.org/10.25200/SLJ.v6.n1.2017.292