O jornalismo que cala a periferia. A dislexia discursiva e o silenciamento da pobreza
DOI:
https://doi.org/10.25200/SLJ.v6.n1.2017.293Palavras-chave:
jornalismo, cidade, discurso, periferiaResumo
- A proposta deste artigo é problematizar a produção de sentido da periferia do Rio de Janeiro na cobertura jornalística. Desde 2009, a cidade começou a promover reformulações urbanas como parte do projeto de qualificação para sediar grandes eventos mundiais. A Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 se tornaram justificativas para mudanças estruturais, principalmente relacionadas à mobilidade urbana – e que vão desembocar em uma série de conjunturas sociais e políticas de remoções e desapropriações em favelas e em bairros da periferia. Assim, recortaremos nosso olhar para as matérias referentes à tônica da legalidade no que tange os “melho- ramentos urbanos” cuja adequação segue o modelo de “cidade global”. O estudo parte da hipótese de que o jornalismo participa das disputas de significados na sociedade pela imposição dos sentidos. Isso se dá a partir do alijamento das vozes suburbanas dissidentes ao consenso discursivo – o que chamaremos de dislexia discursiva. Como falam os mora- dores das áreas mais pobres da cidade na mídia hegemônica? Essa questão nos leva a uma chave de interpretação do papel do jornalismo em neutralizar o potencial questionador das falas plurais que se diz disposto a ouvir. O que nos interessa, então, é questionar como o jornalismo observa, registra e controla tais trocas informacionais na produção do sentido. Para tal, analisamos a cobertura do jornal O Globo sobre as transformações urbanas e as remoções de moradias na periferia feita no período de preparação para a Copa do Mundo/ Olimpíada (2010 a 2013). A hipótese é de que a dislexia discursiva assegura ao jornalismo a potência das estratégias de manutenção não apenas de um status quo “subalterno”, no qual os sujeitos da periferia estão imersos em sua historicidade midiática, como a legitimação do consenso se torna forma de imobilizar resistências.
- This submission intends to discuss the production of meaning regarding the outskirts of Rio de Janeiro in its news coverage. Since 2009, the city began to promote urban revamping as part of projects to be qualified to host major global events. The World Cup of 2014 and the 2016 Olympics have become justifications for structural changes, mainly related to urban mobility—and which will lead to a series of social and political conjunctures and to relocations and expropriations in favelas and suburban neighborhoods. Thus, we focus our attention on matters related to the legality of “urban improvements,” whose adequacy follows the “global city” model. The study starts from the hypothesis that journalism participates in the conflicts of signification in society by imposing specific meanings. This occurs by excluding dissident suburban voices from the discursive consensus—something we call discursive dyslexia. How do the residents of the poorest areas of the city speak on hegemonic media? This question brings us to an interpretation key of the role of journalism in neutralizing the argumentative potential of the plural speeches that journalism is willing to listen to. What interests us, then, is to question how journalism observes, records and controls such informational exchanges in the production of meaning. To this end, we analyzed the coverage of the newspaper O Globo on the urban transformations and housing removals made in the periphery during the period of preparation for the World Cup and the Olympics (2010–2013). Our hypothesis is that discursive dyslexia provides journalism with the power over the strategies of maintenance of a “subaltern” status quo in which the citizens of the periphery are immersed in their own media historicity, as the legitimacy of the consensus becomes a way to immobilize resistance.
- L’objectif de cet submission est de problématiser la production de sens dans la cou- verture journalistique de la périphérie de Rio de Janeiro. Depuis 2009, la ville a commencé à promouvoir des réaménagements urbains dans le cadre de projets de qualification pour accueillir de grands événements mondiaux. La Coupe du Monde 2014 et les Jeux Olympiques de 2016 ont été utilisés pour justifier des changements structurels, principalement liés à la mobilité urbaine — et qui conduiront à une série de conjonctures sociales et politiques et à des déménagements et expropriations dans les favelas et les quartiers de la périphérie. Nous portons donc notre attention sur les questions liées à la légalité d’« améliorations urbaines », dont l’adéquation suit le modèle de « ville globale ». L’étude part de l’hypothèse selon laquelle le journalisme participe aux conflits de significations par l’imposition de certains sens. Cela se produit par l’exclusion de voix suburbaines dissidentes du consensus discursif — ce que nous appelons la dyslexie discursive. Comment parlent les habitants des régions les plus pauvres de la ville dans les médias hégémoniques ? Cette question nous amène à une clé d’interprétation du rôle du journalisme dans la neutralisation du potentiel argumentatif des paroles plurielles auquel il est prêt à écouter. Ce qui nous intéresse, alors, c’est de questionner comment le journalisme observe, enregistre et contrôle les échanges d’informations dans la production de sens. Pour ce faire, nous analysons la couverture par le journal O Globo des transformations urbaines et des expropriations dans la périphérie durant la période de préparation de la Coupe du Monde et des Jeux Olympiques (de 2010 à 2013). Notre hypothèse est que la dyslexie discursive fournit au journalisme le pouvoir sur les stratégies de maintien d’un statu quo « subalterne », dans lequel les citoyens de la périphérie sont immergés dans leur propre historicité médiatique, car la légitimation du consensus devient un moyen d’immobiliser les résistances.
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Publicado
2017-06-15
Como Citar
C. P. Sousa, M. (2017). O jornalismo que cala a periferia. A dislexia discursiva e o silenciamento da pobreza. Sur Le Journalisme, About Journalism, Sobre Jornalismo, 6(1), 102–115. https://doi.org/10.25200/SLJ.v6.n1.2017.293