A política das imagens e a pobreza. Mulheres do Bolsa-Família no fotojornalismo entre 2003 e 2013

Resumo

• O artigo aborda, à luz da reflexão de autores como Jacques Rancière, Marie José Mondzain, Georges Didi-Huberman e Benjamin Picado, como as políticas da imagem se revelam na produção criativa de cenas dissensuais nas quais o sujeito político emerge, aparece e constitui-se através de novos arranjos sensíveis, espaciais e temporais nas imagens fotojornalísticas produzidas por ocasião dos 10 anos do Programa Bolsa-Família (2003-2013). Observa-se como se constitui uma política das imagens a partir da análise de como mulheres pobres beneficiadas pelo Programa são fotografadas por veícu- los jornalísticos e ganham visibilidade a partir de uma tensão entre lógicas subalternizantes de registro e possibilidades de desconstrução e desnaturalização de discursos já enraiza- dos sobre pobreza, assistencialismo, dependência, vulnerabilidade e gênero. Geralmente, o registro dos corpos e rostos dessas mulheres é feito através de enquadramentos que “falam por elas”, mais do que as permite falar. A potência política e criativa que as imagens apre- sentam conecta-se aos gestos de sobrevivência: operações e agenciamentos que possibilitam resistir ao apagamento e desaparição dos sujeitos e excessos de discursos construídos midia- ticamente, pelas instituições sociais e pelo Estado.

• The goal of this paper is to analyze, in the light of reflections proposed by researchers like Jacques Rancière, Marie-José Mondzain, Georges Didi-Hu- berman and Benjamin Picado, how the politics of images manifests itself in the creative composition of scenes of consensus in which political subjects emerge, appear and constitute themselves through noticeably adjusted spatial and temporal arrangements in photojournalistic images produced over a ten year span of the Bolsa-Família Program (2003–2013). The paper also examines how a politics of images is constructed by analy- sing how media represent poor women beneficiaries of the Program. The politics becomes visible in the tension between the logic of the reproduction of the discursive register and the possibilities of deconstruction and denaturalization of pre-established discourses on poverty, social assistance, dependency, vulnerability and the like. Generally, the photographic cap- ture of the bodies and faces of these women is done through angles that “speak for them,” rather than letting them speak.The creative and political power presented by these images are tied to acts of survival: activities and arrangements that make possible and yet resist the photographic capture, the vacuums and the excesses of pre-constructed institutional, governmental and media discourses.

• L’objectif de cet submission est de discuter, à la lumière de la réflexion d’auteurs comme Jacques Rancière, Marie-José Mondzain, Georges Didi-Huberman et Benjamin Picado, comment les politiques de l’image se révèlent dans la production créative de scènes de dissensus dans lesquelles le sujet politique émerge, apparait et se constitue à travers de nouvelles dispositions sensibles, spatiales et temporelles dans quelques images photojournalistiques produites à l’occasion des 10 années du programme Bolsa-Família (2003-2013). Il observe comment se construit une politique des images à par- tir de l’analyse de la représentation des femmes pauvres bénéficiaires du programme par les médias. Elles sont rendues visibles à partir d’une tension entre logique de reproduction du registre discursif et possibilités de déconstruction et de dénaturalisation de discours déjà enracinés sur la pauvreté, l’assistance, la dépendance, la vulnérabilité et le genre. Géné- ralement, la capture des corps et des visages de ces femmes est faite à travers des angles qui « parlent pour elles », plus qu’ils ne laissent parler. La puissance politique et créative présentée par ces images se relie aux gestes de survivance : opérations et agencements qui rendent possible et qui permettent de résister à des captures, silences et excès des discours construits par les médias, par les institutions sociales et par l’État.