A potência mediadora do testemunho na configuração dos relatos jornalísticos sobre a violência contra mulheres na série Um vírus e duas guerras

Auteurs-es

  • Marta R. Maia
  • Dayane do C. Barretos

DOI :

https://doi.org/10.25200/SLJ.v11.n2.2022.491

Mots-clés :

violence de genre , témoignage , décolonialité

Résumé

PT. O trabalho aborda o papel do testemunho em narrativas de violência contra as mulheres em todo território nacional. Ao entender que tal violência se constitui de forma sistêmica e está intimamente vinculada às hierarquias de poder de caráter patriarcal arraigadas na sociedade, e que precisam ser denunciadas para que o futuro possa ser vislumbrado de outra maneira, realizamos uma leitura de várias reportagens que trazem a cobertura dessa violência em 2020. A série, denominada Um vírus e duas guerras, foi veiculada a partir de uma espécie de consórcio, formado por sete mídias parceiras, que atuam fora do circuito mainstream do jornalismo: Amazônia Real, Agência Eco Nordeste, #Colabora, Portal Catarinas, Ponte Jornalismo, AzMina e Marco Zero Conteúdo. Tendo como eixo de discussão o “texto testemunhal” (Frosh, 2009), temos como objetivo compreender, a partir das falas das vítimas, profissionais de apoio, familiares e dos próprios jornalistas, os modos como as lógicas patriarcais e as nuances específicas do contexto brasileiro emergem de forma a complexificar esse problema público, evidenciando uma prática jornalística menos afeita a uma perspectiva presentista, além de revelar a relevância do testemunho no jornalismo. Compreendemos, portanto, a potência do aspecto testemunhal nas produções sobre violência como um importante gesto interpretativo que permite que um episódio temporalmente localizado de violência se insira em um continuum de permanências e rupturas. E é exatamente esse continuum que configura a dimensão estrutural da violência de gênero. Nessa perspectiva, entendemos que o testemunho midiático amplia a noção de testemunho no jornalismo ao envolver produtores e receptores em uma experiência comunicacional que garante outros tipos de acesso ao que está sendo noticiado. Consideramos ainda que é possível complementar os dados e informações disponíveis com os testemunhos de quem convive e/ou conviveu com a violência de forma direta ou indireta, garantindo, assim, a identificação das recorrências e dos ciclos que se repetem, o que pode contribuir para fomentar a discussão sobre políticas públicas de prevenção à violência contra as mulheres no Brasil.

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EN. This article discusses the role of testimony in narratives of violence against women in Brazil. Several reports on gender-based violence in 2020 have been contextualized on the premise that gender-based violence is systemic. Intimately linked to patriarchal power hierarchies embedded in society, this violence must be denounced in order to envision a different future. The show A Virus and Two Wars was analyzed: it was broadcasted by a consortium of seven partner media outlets operating outside mainstream journalism circuits: Amazônia Real, Agência Eco Nordeste, #Colabora, Portal Catarinas, Ponte Jornalismo, AzMina and Marco Zero Content. Drawing from the concept of "testimonial text" (Frosh, 2009) and based on the testimonies of victims, welfare professionals, family members and journalists themselves, we sought to understand the ways in which patriarchal rationales and dynamics specific to the Brazilian context emerge from these accounts, complexifying the public issue. Our approach highlights, on the one hand, a journalistic praxis that is not very " present ", and on the other hand, the importance of personal testimony in journalism. Testimony in works about violence is powerful. It is therefore considered to be an important interpretative gesture that allows to embed an episode of violence that is situated in time in a continuum of permanencies and disruptions that shapes the structural dimension of gender-based violence. In this light, testimony in the media appears to broaden the notion of testimony in journalism as it engages transmitters and receivers in a communicative experience capable of fostering deeper forms of access to the topic of the report. Furthermore, combining the available data and information with the testimonies of those who directly or indirectly experience and/or have experienced violence, would allow to identify recurring patterns and cycles, which could contribute to the debate on public policies for the prevention of gender-based violence in Brazil.

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FR. Cet article traite du rôle du témoignage dans les récits de violence à l'égard des femmes au Brésil. Plusieurs reportages rendant compte de cette violence en 2020 ont été mis en perspective à partir du présupposé que cette violence se constitue de manière systémique. Étroitement liée aux hiérarchies de pouvoir de nature patriarcale ancrées dans la société, ces violences doivent être dénoncées pour que l'on puisse entrevoir un avenir différent. La série ayant fait l’objet de l’analyse, intitulée Un virus et deux guerres, a été diffusée par un consortium formé par sept médias partenaires, qui opèrent en dehors du circuit du journalisme mainstream, à savoir, Amazônia Real, Agência Eco Nordeste, #Colabora, Portal Catarinas, Ponte Jornalismo, AzMina et Marco Zero Content. Partant du concept de « texte testimonial » (Frosh, 2009), nous avons cherché à comprendre, à partir des témoignages des victimes, des professionnels de l’assistance, des membres de la famille et des journalistes eux-mêmes, les façons dont les logiques patriarcales et les nuances spécifiques au contexte brésilien émergent de ces propos, qui complexifient ce problème public. Notre approche révèle, d’une part, une pratique journalistique peu « présentiste », et d’autre part, le poids du témoignage dans le journalisme. Le témoignage dans les productions sur la violence, par sa puissance, est ainsi perçu comme un geste interprétatif important qui permet d'insérer un épisode de violence situé dans le temps dans un continuum de permanences et de ruptures qui configure la dimension structurelle de la violence de genre. Dans cette optique, le témoignage médiatique semble élargir la notion de témoignage dans le journalisme car il implique les producteurs et les récepteurs dans une expérience communicationnelle capable de favoriser d'autres accès à ce qui est rapporté. Par ailleurs, il conviendrait d’associer aux données et aux informations disponibles les témoignages de ceux qui vivent et/ou ont vécu la violence directement ou indirectement, de façon à identifier des récurrences et des cycles, ce qui peut contribuer à alimenter le débat sur les politiques publiques de prévention de la violence envers les femmes au Brésil.

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Publié-e

16-12-2022

Comment citer

Maia, M. R., & Barretos, D. do C. (2022). A potência mediadora do testemunho na configuração dos relatos jornalísticos sobre a violência contra mulheres na série Um vírus e duas guerras. Sur Le Journalisme, About Journalism, Sobre Jornalismo, 11(2), 76–89. https://doi.org/10.25200/SLJ.v11.n2.2022.491